Compostela / Coruña, no comboio. É incrível como todo o meu semelhante que aqui vai sentado de viagem, vai ocupado: são telemóveis, ifhones, ipads, portáteis...Um infindável rol de objectos que ocupam, que distraem o homem transformando-o num ser individualizado, domesticado, robotizado, rotineiro, solitariamente embezerrado neste seu mundo, o mundo cósmico da virtualidade; numprometido progresso sem cheiro, sem vento, sem chuva, sem alma (...) E eu aqui vou, de bloco e caneta na mão, com a minha umbilical e instintiva curiosidade pela vida, a comtemplá-la, a lê-la, e a pensar que o livro, o da vida, é daquelas "ocupações" que devemos obrigatoriamente auto-impor, não só por uma necessidade higiênica mas também e para talvez assim, iniciarmos a viagem ao nosso interior partindo da matriz telúrica.
O poeta, ia dissertando alguns versos quando a polícia entrou abruptamente na sala: - Levem-nas para a esquadra! Um silêncio atônito abateu-se sobre a sala. - Mas elas quem, chefe? - Às palavras! A plateia ovacionou de pé.
A Coruña. A perder-me na inefável melancolia de Mário Benedetti...Onde as vicissitudes do homem são fonte catalisadora de renovo e onde a vida e a morte vivem lado a lado numa perfeita e harmoniosa consciência dos passos.
Aproveitei a tarde do domingo para ler con calma o wconstrangido do meu caro Tiago. A composición fai boa xustiza a aquilo que nalgún dos mellores momentos de Stalin proclamou: "o poeta debe ser o enxeñeiro da alma". Do wconstrangido florecen aqueles elementos que fan vibrar a alma dos bos e xenerosos, dos que arelamos a necesidade de mudanzas nun mundo eternamente agradecido aos escasos xestos de humanidade e excesivas pleitesías ao capital. En definitiva, chégame coma unha bocanada de ar fresco para seguir afrontando con solvencia o debate escatolóxico en beneficio dun mundo xusto. En "diálogos do noso tempo" vexo un Tiago, aquel Tiago que rexurdía con inocencia, máis cargado de verdade e retranqueiro naquelas tardes de domingo ou noites antes/despois da cea no piso da rúa monelos, 3ºF após unha forte deserción sobre os temas de actualidade política. É un pracer encontrarme con esa retranca e esa frase solta, que por naïf, non deixa de estar cargada de humanidade e poder dialéctico.
(...) dizia ele que dessas coisas não entendia: de políticas, de filosofias, de artes, de poesias, isso é muito prá minha cabeça, que lhe falassem – arremessou um olhar - olhe, que me falassem, por exemplo, de futebol! isso sim, isso entendia ele, falemos filosoficamente de futebol!de estatísticas de futebol!de resultados de futebol! - falava agora com mais ímpeto - de foras-de-jogo ede nomes de jogadores de futebol!falemos da poesia no futebol! da arte do golo no futebol!isso sim, isso falo eu!! - concluía com um sorriso que denotava confiança - e na realidade ele gostava da coisa, não sabia bem porquê, mas gostava, era coisa que lhe dava condição, sobretudo na fala, fosse com que fosse, fosse onde fosse e que por ele passava a vida nisto, a vida toda! ese me pagassem...não pagavam, mas gostava, sabia da coisa, não sabia bem porquê, mas sabia, sabia que gostava, da coisa... agora filosofias e poesias, não, que lhe falassem de futebol! de resultados de futebol! da poesia no futebol!
- Identifique-se, por favor. Surpreendido, o homem, que por ali caminhava, aquiesceu. - Para onde vai? - interrogou o guarda, apontando com uma pequena lanterna para os documentos. - Para onde vou? - Sim, para onde vai! - Matar-me. O guarda olhou-o em silêncio. - Matar-se? - Sim. - Onde? - Ali, na ponte velha. Novo silêncio. - Importa-se que lhe faça um teste? - Não. O guarda retirou de um bolso um pequeno aparelho de plástico. - Vai fixar o olhar neste ponto... - Neste? - Nesse. O homem olhou, concentrado, o aparelho durante alguns segundos. - Chega? - Um pouco mais... O guarda recolheu então o aparelho. Olhou-o. Afastou-se, ligeiramente. Voltou a olha-lo. Apontou com a lanterna no homem e num tom mecanizado, mandou seguir. O homem seguiu.
era no comboio era no trabalho era no café era na farra
criticava criticava criticava criticava
e protestava!
e quando voltava a casa embriagado de tanta crítica
criticava criticava criticava criticava
e protestava!
a mulher dizia-lhe anda pra cama... e ele ia mas criticava criticava criticava criticava
e protestava!
e ia e deitava e sonhava sonhavaque protestava que criticava que protestava que sonhava que protestava que criticava e a mulher dizia-lhe cala-te, homem... e ele calava mas sonhava...